Se os anos 1990 foram a era de ouro dos videogames, 1993 certamente foi um de seus momentos mais brilhantes. Naquele ano, a transição dos 8 para os 16-bits estava consolidada e os primeiros 32-bits já começavam a dar as caras, e experimentamos um ano absolutamente transformador para a indústria dos games.
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Foi em 1993 que o debate sobre violência nos videogames ganhou proporções nunca antes vistas, principalmente por conta de Mortal Kombat e Doom. As discussões acaloradas culminaram, nos Estados Unidos, na criação do sistema ESRB de classificação etária que é utilizado até hoje e foi precursor de outros como o PEGI na Europa e o ClassInd no Brasil. Enquanto isso, novos consoles tentavam conquistar espaço no acirrado mercado: o 3DO, o Jaguar da Atari, o Amiga CD32 e até mesmo uma versão redesenhada do NES apareceram.
No Brasil, o Super Nintendo finalmente fazia sua estreia oficial pelas mãos da Playtronic, dando início a uma batalha épica contra o já estabelecido Mega Drive da TecToy. A disputa entre as duas gigantes japonesas, Nintendo e Sega, ganharia contornos tropicais com direito a campanhas de marketing agressivas e até mesmo lançamentos exclusivos para nosso mercado. Paralelamente, os PCs ganhavam cada vez mais espaço como plataforma de jogos, com avanços rápidos em processamento gráfico e sonoro.
Nesse cenário efervescente, vimos o lançamento de alguns dos jogos mais inovadores e influentes de todos os tempos. De simuladores a shooters que transformaram a indústria, de aventuras que expandiram os limites da narrativa a plataformas que definiram gerações, 1993 apresentou obras-primas que até hoje são jogadas por milhões de pessoas
10. Myst
Quando Robyn e Rand Miller lançaram Myst em 1993, não imaginavam que estavam prestes a transformar a indústria do PC gaming. Em uma época dominada pelos shooters em primeira pessoa e jogos de ação, Myst surgiu como uma proposta radicalmente diferente: uma aventura contemplativa, sem inimigos para derrotar, sem contadores de tempo e nenhuma forma de game over.Myst revolucionou ao trazer uma proposta de gameplay diferenciada, focada na contemplação e sem game over (Imagem: Reprodução/Sunsoft)
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O jogo nos transportava para uma ilha misteriosa cheia de estruturas peculiares e mecanismos complexos, através de imagens pré-renderizadas que impressionam até hoje. A sensação era de estar explorando uma pintura interativa, um mundo solitário onde cada descoberta vinha acompanhada de uma satisfação única. Os puzzles eram meticulosamente integrados ao ambiente, exigindo observação atenta e pensamento lateral, tornando cada mínimo progresso uma baita conquista intelectual.
Myst se tornou um fenômeno cultural que provou que os videogames podiam ser experiências artísticas e contemplativas. Durante anos, foi o jogo para PC mais vendido da história, superado apenas por The Sims em 2000, e contribuiu decisivamente para a popularização do CD-ROM.
9. Gabriel Knight: Sins of the Fathers
1993 trouxe muitas inovações técnicas e Gabriel Knight: Sins of the Fathers destacou-se no meio disso ao elevar o nível narrativo dos jogos de aventura. Criado pela lendária designer Jane Jensen na Sierra On-Line, o jogo nos apresentou ao carismático Gabriel Knight, um escritor de romances de terror que descobre ser o último de uma linhagem de Schattenjägers (caçadores de sombras).
Continua após a publicidadeGabriel Knight apresentou trama adulta que desafiava convenções da época e cenários pintadas à mão (Imagem: Reprodução/Sierra Entertainment)
Ambientado em Nova Orleans, nos EUA, o jogo mergulhava o jogador em uma trama adulta envolvendo assassinatos rituais, vodu e segredos familiares sombrios. Com uma pesquisa histórica meticulosa e diálogos extremamente bem escritos, Jensen criou uma história que transcendia as convenções dos videogames da época. A atmosfera densa e opressiva era intensificada por uma trilha sonora notável e pelo excelente trabalho de dublagem, que contava com nomes como Mark Hamill, Tim Curry e Leah Remini.
Tecnicamente, Gabriel Knight também representou um ponto de virada para a Sierra. Utilizando a evolução do motor SCI, o jogo combinava belíssimos cenários pintados à mão com animações em VGA, além de sequências em full-motion video. A interface de point ‘n click havia sido simplificada em relação aos títulos anteriores da empresa, deixando a experiência mais acessível sem sacrificar a profundidade dos puzzles.
Até hoje Gabriel Knight é lembrado por sua excelência técnica e por demonstrar que videogames podiam abordar temas complexos com sofisticação narrativa comparável à literatura e ao cinema. Seu sucesso garantiu duas continuações e solidificou Jane Jensen como uma das mais importantes narradoras interativas de todos os tempos.
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8. Aladdin
Quando a Disney e a Virgin Interactive lançaram Aladdin para o Mega Drive em 1993, subiram mais uma vez a barra do que poderia ser considerado um “jogo baseado em filme”. Em uma época em que adaptações cinematográficas para videogames eram frequentemente decepcionantes, Aladdin chegou para mostrar que era possível capturar a magia de uma animação dentro de um jogo 16-bits.Aladdin para Mega Drive faz parte da excelente safra de jogos baseados em filmes do começo dos anos 1990 (Imagem: Reprodução/Virgin Interactive)
O grande diferencial técnico estava na animação dos personagens. A Disney forneceu seus próprios animadores para criar os sprites do jogo, utilizando a técnica de rotoscopia — o mesmo processo usado no filme — para garantir uma fluidez de movimento jamais vista em um game. O resultado foi um Aladdin que se movia com a mesma graciosidade que seu equivalente cinematográfico. Quando os jogadores viram Aladdin correndo pelas ruas de Agrabah pela primeira vez, a linha entre animação e jogo parecia mais tênue do que nunca.
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A trilha sonora também merece destaque, adaptando perfeitamente as composições de Alan Menken do filme original para o chip sonoro do Mega Drive. Melodias como “A Whole New World” e “Friend Like Me” ganharam versões 16-bits que se tornaram memoráveis, complementando perfeitamente a experiência visual. Os cenários vibrantes e coloridos captavam a essência do filme, transportando o jogador para o mundo mágico de Agrabah.
Curiosamente, a versão para Super Nintendo, desenvolvida pela Capcom, seguiu um caminho completamente diferente, com estilo visual e jogabilidade distintos. Isso criou um dos maiores debates da era 16-bits: qual Aladdin era melhor? Enquanto a versão do SNES apostava em visuais mais suaves e gameplay mais acessível, a versão do Mega Drive trazia animações mais elaboradas e maior desafio.
7. The Legend of Zelda: Link’s Awakening
Quando a Nintendo lançou The Legend of Zelda: Link’s Awakening para o Game Boy em 1993, poucos imaginavam que um jogo portátil em preto e branco poderia entregar uma experiência tão rica e memorável quanto seus irmãos para consoles de mesa. Desenvolvido inicialmente como um port de A Link to the Past, o projeto rapidamente evoluiu para uma aventura completamente original, até hoje considerada uma das mais peculiares e emocionantes da franquia.
Continua após a publicidadeLink’s Awakening é um dos Zelda mais emocionantes até hoje, com narrativa marcante, cheia de melancolia e filosofia (Imagem: Reprodução/Nintendo)
Ambientado na misteriosa Ilha Koholint, o jogo nos apresentava a um Link náufrago que precisa despertar o lendário Peixe do Vento para retornar para casa. A narrativa melancólica e filosófica — especialmente para um jogo portátil da época — abordava temas como existencialismo e a natureza dos sonhos. A atmosfera fantasiosa era reforçada pelos habitantes excêntricos da ilha, incluindo referências inusitadas a outros jogos da Nintendo, como a aparição de inimigos de Super Mario e até mesmo um Yoshi de pelúcia.
Os desenvolvedores conseguiram comprimir a essência da jogabilidade de Zelda — com dungeons complexas, itens colecionáveis e um vasto mundo para explorar — dentro das limitações do Game Boy. A introdução do botão de atribuição permitia alternar rapidamente entre itens sem acessar menus, uma inovação que se tornaria padrão na série. A música, mesmo com as restrições de hardware, entregava composições memoráveis que complementavam perfeitamente a atmosfera misteriosa do jogo.
O legado de Link’s Awakening é tão significativo que, mais de 30 anos depois, a Nintendo lançou um remake completo para o Switch, reafirmando a importância deste capítulo na história de Zelda.
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6. Street Fighter II Turbo: Hyper Fighting
Street Fighter II Turbo: Hyper Fighting foi uma resposta da Capcom a um problema inusitado: a pirataria estava evoluindo seu próprio jogo mais rápido que ela mesma. No Brasil, onde conhecíamos essas versões não-oficiais como “Street Fighter de rodoviária”, as placas piratas aceleravam o gameplay e adicionavam novos golpes, criando uma experiência mais frenética que muitos jogadores adoravam, apesar dos inúmeros bugs.Street Fighter II Turbo foi a resposta da Capcom aos famosos gabinetes de “Street Fighter de rodoviária” famosos no Brasil (Imagem: Reprodução/Capcom)
Reconhecendo a popularidade dessas versões modificadas, a Capcom decidiu criar sua própria versão “turbinada” do jogo — afinal, se não pode vencê-los, junte-se a eles. Street Fighter II Turbo aumentou significativamente a velocidade do gameplay, reequilibrou os personagens e adicionou novos golpes especiais. Ryu e Ken ganharam seus icônicos Hurricane Kicks aéreos, enquanto Chun-Li recebeu seu Kikoken. Essas mudanças tornaram as partidas ainda mais estratégicas e imprevisíveis.
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A introdução do sistema de dificuldade por estrelas permitia que os jogadores regulassem a velocidade do jogo, tornando a experiência acessível para novatos enquanto oferecia um desafio a mais para veteranos. No nível máximo de oito estrelas, os confrontos se transformavam em batalhas absurdas, exigindo reflexos quase sobre-humanos, timing perfeito e memória muscular impecável, características que definiriam o gênero de luta nos anos seguintes.
Street Fighter 2 Turbo consolidou o jogo como muito mais que um modismo passageiro. A disposição da Capcom de evoluir o conceito original mostrou que a empresa estava atenta ao feedback dos jogadores e disposta a inovar. Enquanto preparava o terreno para o lançamento de Super Street Fighter II mais tarde naquele mesmo ano, Turbo garantiu que as máquinas de fliperama permanecessem lotadas de jogadores ansiosos para testar suas habilidades nesta versão ainda mais desafiadora.
5. Star Fox
Quando a Nintendo revelou Star Fox em 1993, a reação dos jogadores foi de puro espanto. Em uma época que gráficos tridimensionais eram raridade em consoles domésticos, ver polígonos se movendo com suavidade na tela do Super Nintendo parecia quase mágico. O segredo estava no Super FX, um chip adicional embutido no próprio cartucho que funcionava como um coprocessador gráfico, permitindo cálculos 3D que o SNES jamais conseguiria fazer sozinho.